Processo Criativo

Árvore em mosaico de azulejos e gesso, sobre suporte de MDF, feito em atendimento  pela cliente S.A, 55 anos, como consequência de um processo de experimentação com mosaico de papel.

Estou para escrever sobre processo criativo desde janeiro, mas o trabalho e a faculdade tem me roubado tempo e inspiração. Gostaria muito de fazer um daqueles discursos acadêmicos cheios de citações e referências, mas de tanto esperar que esse tempo chegasse, o tempo passou e eu não fiz. Então resolvi falar sobre processo criativo com as minhas próprias palavras e baseada na minha experiência como artista, como educadora e como arteterapeuta.

Antes de começar a falar sobre processo, é preciso definir a criatividade.

Criatividade é uma capacidade humana inata para criar coisas, ideias, soluções, imagens e tudo o mais que pode ser criado. Nós nascemos e criamos o nosso mundo. Aí crescemos e nos adequamos às convenções sociais. Determinamos o que é certo e errado, belo e feio, normal e anormal, etc. Nossos escolas formam cidadãos reprodutores do mundo existente e não criadores. Toda a nossa imaginação, nossa espontaneidade, nossa liberdade criativa é considerada infantil, imprópria, inútil, depois de uma certa idade. E aí a criatividade é bloqueada.

O bloqueio criativo se manifesta através de expressões como "não sei fazer", "não consigo fazer", "não tenho jeito", "minhas mãos não me obedecem", "tudo que eu faço é feio", etc. E como é que se desbloqueia? Experimentando. Ninguém é bom em tudo. Ninguém faz tudo lindo e perfeito o tempo todo. Mas quem é bom em alguma ou algumas coisas e sabe disso é porque experimentou fazer. Imaginem se Pablo Picasso nunca tivesse experimentado desenhar? 

"Isso é coisa de criança" é uma frase típica de quem foi extremamente cobrado para crescer e foi destituído do poder de imaginar, fantasiar e criar. Para desbloquear a criatividade é preciso reencontrar a liberdade de ser criança, não importando sua idade. E experimentar suportes diferentes, ferramentas variadas, técnicas diversas. 

Outra coisa que facilita e muito tanto no desbloqueio da criatividade quanto na manutenção do processo criativo é ampliar o olhar buscando coisas novas. Ir à exposições de arte, teatro, cinema, pesquisar imagens na internet, etc. Deixar que o novo entre e se integre ao que já existia. Porque quanto mais coisas você conhece, mais inspiração você tem. 

E exercite o olhar aberto. Lance primeiramente um doce olhar curioso às coisas. 

De repente, entre uma experimentação e outra, você se vislumbra com sua obra e "clic", é iniciado o processo criativo, porque você passa a se reconhecer no que faz. Você gosta porque faz parte de você. Talvez não seja uma obra de arte pras outras pessoas, mas isso não importa mais. Quando você consegue ver sentido na sua obra é porque, de fato, você alcançou o objetivo do fazer artístico. Expressar-se.

Então vamos desenhar o processo:

- 1ª fase - bloqueio - "Não sei fazer", "isso é coisa de criança";

- 2ª fase - desbloqueio - "eu achei lindo, vou pendurar na minha parede";

- 3ª fase - processo em andamento - "já sei! vou fazer...";

- 4ª fase - auge do processo - cria coisas sem objetivos definidos e guarda, coloca ideias no papel, não fica inseguro quando é pedido para criar algo, sabe onde buscar inspiração, está sempre exercitando a sua criatividade.

A criatividade é inerente ao ser humano, mas como qualquer capacidade é preciso exercitá-la. É preciso deixar-se experimentar e deixar que experimentem. Não existem pessoas mais criativas que outras, existem sim, pessoas com habilidades diferentes e que tem níveis diferentes de consciência da sua própria criatividade. Todos somos capazes de criar coisas belas e úteis, mas não a todo momento, não a qualquer hora, não de qualquer forma, ou com qualquer material. Quando se tem consciência disso a cobrança é menor e o prazer em criar é maior. Tem gente que só cria sob pressão, tem gente que nessa condição bloqueia. Tem gente que só cria com tempo, silêncio e liberdade, tem gente que dorme nessas condições. Cada um é um. Diferentes, criando coisas diferentes, de maneiras diferentes. Mas somos iguais em uma coisa: Somos todos seres criativos.

Até o próximo post.

Raquel Souto